Superando expectativas
Por Rafaella Andrelini Franco da Silva
Eu ainda me lembro de como o tênis de mesa foi importante para mim e de como o valorizo demais.
Foi no 6° ano, eu mal tinha me adaptado à escola e não tinha feito amizades, sempre ficava na minha, esperando que a próxima aula começasse, e por isso alguns sempre me consideravam muito quieta e séria, o que eu achava um pouco engraçado, mas nunca demonstrava.
Os jogos escolares começaram, apesar de nunca ter participado de uma competição escolar, estava animada e um pouco receosa, pois talvez não me qualificasse em nenhuma modalidade. Até que um dia, enquanto estávamos em uma aula (não me lembro qual), a diretora veio em nossa sala e avisou que haveria um jogo chamado tênis de mesa. Aquilo imediatamente despertou o meu interesse, eu já havia jogado este jogo antes, na mesma hora meu coração começou a disparar de emoção, não podia perder essa chance, então me inscrevi para participar.
Mas isso não significaria que eu iria para os jogos, ainda teriam as classificatórias. Então eu fui para o saguão (aonde nós iriamos ser classificados) e esperei os professores chegarem. Enquanto esperava, observei que havia um número considerável de alunos que estavam lá para fazer o teste., Não sabia se eles realmente estavam lá para jogar ou se era mais para matar aula... Deixei isso de lado, pois os professores haviam chego, estavam lá a diretora e o professor de História (que na minha opinião é um ótimo jogador), eles iriam nos avaliar. Foram indo em pares para jogar, um por um, e a cada troca eu ficava cada vez mais nervosa, não sabia se iria ficar com um oponente muito bom, ou se iria errar.Até que isso já não importava mais, pois era a minha vez de jogar.
Como eu sempre joguei o tênis de mesa só para passar o tempo, não sabia fazer nada tão excêntrico, só fazia o jogo do ping-pong, e isso realmente não me qualificaria para participar do jogos escolares, porém algo me surpreendeu. Depois que todos jogaram, os professores começaram a chamar os alunos que não foram escolhidos para irem para a sala e, para a minha surpresa eu não fui chamada. Aquilo realmente quase me fez pular de alegria, eu estava tão emocionada que não parava de sorrir! Enquanto celebrava minha quase vitória, os professores nos chamaram para explicar como iria ser daqui por diante, teríamos treinos alguns dias da semana (não me lembro qual dia) e seria depois que as aulas terminassem, para que não perdêssemos conteúdo, ou seja, eu teria que ficar mais tarde na escola. Aquilo me apavorou um pouco, não que seja um incômodo ficar na escola por mais tempo, mas sim, por eu ser quieta e “despercebida” demais, poderiam até se esquecer de mim.
Então começou a minha rotina de treinos, todos depois das aulas. Eles eram bem divertidos e instrutivos, e o nosso treinador era o professor de história, que me ensinou algumas manhas que eu pratico até hoje. Com o passar dos treinos eu ia ficando cada vez melhor, mas eu pensava, será que isso será o suficiente para ganhar?
E chegou o grande momento em que enfim eu iria participar dos jogos. Depois de tantos treinos, poderia se dizer que eu estava super preparada e não tinha medo de nada, era o que eu gostaria de dizer, mas não, eu estava muito nervosa, não parava de tremer e como tínhamos que estar na escola cedo, estava muito frio. Quando o ônibus chegou os alunos que iriam jogar tinham que entrar, e não era só os de tênis de mesa, também tinha os alunos do xadrez, eu fui entrando e sentei no primeiro banco do ônibus.No caminho todo eu fui pensando em como seriam os jogos, minha ansiedade só aumentava, era um turbilhão de sentimentos, tanto de alegria como de nervosismo. Quando chegamos lá, fiquei surpreendida com a quantidade de alunos de diferentes escolas, e ainda mais quando os jogos começaram, eram tantos os alunos que jogavam super bem, com técnicas e rapidez, era de se admirar.
Até que ouço o meu nome e escola sendo chamados, era a minha chance e não podia desperdiçá-la, das partidas que eu joguei, eu poderia passar para a outra fase. Concorrendo para primeiro e segundo lugar, dei-me ao encontro de uma adversária realmente difícil, pois não era só por suas técnicas e experiências, mas sim por que a todo momento seu técnico gritava atrás de mim ao meu ouvido, aquilo me enfurecia e distraía-me, era muita pressão sobre mim, que acabei falhando. Eu fiquei abalada, mas ainda concorrendo ao terceiro lugar, lá estava eu, sem desistir ainda, fui levando a partida, estávamos em um empate, eram poucas as diferenças, seria a minha chance de conseguir pelo menos o terceiro lugar, estava ao ponto de explodir até que, por uma fatalidade, eu perdi.
Estava tudo acabado, terminei a partida, cumprimentei a minha oponente, e fui em direção aos alunos da minha equipe, eu estava sem palavras, tinha chegado tão longe e ainda assim não consegui, era demais para mim. Comecei a chorar, era um choro de tristeza misturado com um alívio, pois toda aquela pressão tinha ido embora, o que sobrou foram só algumas lágrimas. Todos os alunos que vieram comigo no tênis de mesa se reuniram a minha volta e ficaram me parabenizando por eu ter chegado até ali, no meu primeiro ano participando dos jogos escolares.
Eu posso até não ter ganho nenhuma medalha, porém, a minha felicidade em contar ao meu pai era imensurável, eu não podia acreditar que tinha feito tudo aquilo, e aquela derrota que me lembro até hoje, só me deixou ainda mais motivada em finalmente conseguir o tão desejado primeiro lugar.