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ÍNDIGO BEM-VINDA DE VOLTA!

A escritora e o colégio João Gueno: uma relação atualizada em tempos de pandemia.

Por Emanuelle, Fabiane, Maria Eduarda e Milena.

Edição: David Milani e Gabrielle Marina

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Foto da escritora "Índigol". Fonte: site livrosdaindigo.com.br

Para esta segunda edição, a equipe responsável pela entrevista escolheu conversar com Ana Cristina Ayer de Oliveira, ou melhor, a nossa querida Índigo! Para além de todas as apresentações sobre o talento dessa escritora, com uma vasta produção literária principalmente voltada ao público infanto-juvenil, a escolha se justifica pela oportunidade de um reencontro, mesmo que virtual, para recordarmos um pouco da experiência de leitura de suas obras A maldição da moleira e Saga Animal nos anos sextos e sétimos anos de 2013 e 2014, as visitas ao nosso colégio, os novos projetos, a criatividade em tempos de pandemia. A seguir, vocês podem conferir um pouco desse bate-papo delicioso e desse encontro emocionante! Boa leitura!

QUAL O SIGNIFICADO DO SEU NOME? POR QUE ÍNDIGO?

ÍNDIGO: Olha, foi assim... Índigo surgiu quando eu comecei a escrever contos na internet e isso foi bem no comecinho da internet, tinha pouca gente escrevendo, produzindo, e eu também tinha pouquíssima experiência de expor os meus textos para pessoas que não fossem basicamente família. Então como eu tinha uma certa insegurança em relação ao que as pessoas iriam achar dos textos, resolvi criar um pseudônimo. O motivo inicial foi esse. Além disso eu queria pseudônimo neutro, que a pessoa não soubesse se era homem ou mulher escrevendo, por isso escolhi: “Índigo”. Com o tempo, eu descobri que, de fato, quando eu me sento para escrever ficção, a impressão que eu tenho é que realmente me transporto para pele de outra pessoa e daí o fato de usar pseudônimo começou a fazer cada vez mais sentido

QUAIS FORAM OS MOTIVOS PARA VOCÊ MORAR FORA DO PAÍS?

ÍNDIGO: Nem foi muito uma decisão minha, mas basicamente quando eu estava com 19 anos, eu ia começar a faculdade e, meu pai foi transferido por causa do emprego dele para os Estados Unidos. Com eles foram minha mãe e minha irmã mais nova. Eu tinha opção de ir ou ficar por aqui fazendo faculdade, só que eu descobri que a faculdade que eu estava fazendo, que era Letras, não estava me agradando nem um pouco, que eu queria realmente fazer Jornalismo. Fiz seis meses aqui e resolvi ir para lá fazer Jornalismo e ficar com eles lá. Então foi por esse motivo.

QUAL O MOTIVO DE VOCÊ NÃO EXERCER A PROFISSÃO DE JORNALISTA?

ÍNDIGO: O chamado para a literatura, para escrita é muito comparado a um dom artístico mesmo, né? Acho que quando a gente tem esse chamado de desenvolver algum dom específico é uma coisa muito forte e eu sentia que no Jornalismo eu não ia me realizar nunca. Eu realmente tinha que escrever ficção, literatura, isso parecia uma ideia muito louca, ao mesmo tempo, era uma verdade muito profunda. Então resolvi me arriscar nessa área, foi basicamente seguir a intuição, como um chamado mesmo, eu sabia que era ali que eu tinha que desenvolver as minhas habilidades.

COMO COMEÇOU SUA CARREIRA DE ESCRITORA? E COMO VOCÊ ESCOLHEU O SEU ESTILO LITERÁRIO?

ÍNDIGO: Vou começar pelo fim, o estilo literário eu acho que é assim, não é uma decisão consciente, que você escolhe ou você até planeja. O estilo você vai descobrindo fazendo. Durante um tempo você escreve muito e essas primeiras escritas normalmente são inspiradas nos autores que são as suas referências. Por exemplo, para mim, uma grande referência sempre foi a Lygia Bojunga e a outra Lygia, a Lygia Fagundes Telles. São duas autoras que eu lia muito quando jovem, admirava demais e eu tenho certeza de que meus primeiros contos tinham uma pegada de Lygia Fagundes Telles. É uma espécie de “macaquear” ela, só que com a prática a gente vai encontrando a nossa própria voz e é um processo bem acidental. Uma frase sobre estilo que eu vi recentemente e que eu achei muito boa é “estilo é aquilo que você faz errado”. Por exemplo, eu estava copiando a Lygia Fagundes Telles durante um tempo, de repente eu fiz errado e descobri a minha própria voz. Então estilo é isso, estilo a gente descobre meio que por acaso, quando você consegue encontrar a sua singularidade ali, na escrita. E a primeira pergunta, como começou a minha carreira,  uma coisa que é quase uma consequência, porque se você for pensar, a carreira de escritora é consequência de você ter livros publicados., No começo eu fazia muito texto para publicidade, fazia traduções do inglês para o português, escrevia alguns contos, fazia vários bicos, enquanto nesses primeiros anos eu ia publicando meus livros, lá pelas tantas, depois de uns bons seis livros publicados que eu comecei a considerar a escrita de livros como uma profissão mesmo. Então é um processo bem gradual.

QUANDO PUBLICOU SEUS PRIMEIROS CONTOS NA INTERNET EM 1997, QUAIS ERAM AS SUAS EXPECTA TIVAS QUANTO A SER ESCRITORA?

ÍNDIGO: Acho que nenhuma (risos). Acho que no começo a gente escreve como uma diversão, eu realmente gostava muito daquilo, mas eu não imaginava que aquilo poderia virar uma profissão, de jeito nenhum. Eu estava ali ainda ganhando musculatura de escrita, mas muito mais para frente que eu fui perceber que eu tinha condições de transformar aquilo em profissão mesmo. Nas artes em geral, a gente realmente começa como amador, no sentido da palavra daquele que ama, eu escrevia porque eu amava escrever contos e publicar contos na internet, e continuo amando e dessa dedicação, desse amor, que a gente faz simplesmente por coração e por gostar de fazer que, lá para frente, vai ter um retorno financeiro.

QUAIS FORAM AS SUAS MOTIVAÇÕES E AS DIFICULDADES PARA ESCREVER E PUBLICAR SEU PRIMEIRO LIVRO?

ÍNDIGO: A motivação do primeiro livro é que eu percebi que ali, realmente, eu tinha uma boa história. Eu acho que a motivação do escritor tem que vir da história em si, você tem que acreditar muito no livro que você está escrevendo e nisso eu acreditava. Também eu percebi que aquele livro que eu estava escrevendo, que é o “Saga Animal”, a história de um menino que quer ter um bicho de estimação e a mãe não deixa, eu logo percebi que muitas pessoas poderiam se conectar com aquela história, porque é tipo um clássico da infância né, passar por essa fase que a mãe não deixa a gente ter um bicho e a gente quer de qualquer jeito, muitas crianças passam por isso. Quando eu saquei isso, falei “aqui vale a pena investir”, porque eu percebo uma potência de história, a motivação veio daí. As dificuldades? Eu não conhecia nenhum escritor, nenhuma escritora, não conhecia ninguém que trabalhasse numa editora, não sabia o caminho das pedras, não tinha ninguém na minha família que soubesse também, que já tivesse trabalhado em mercado editorial. Fui descobrindo o caminho sozinha e foi numa época que não tinha muita oficina de escrita, aliás tinha uma só.

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Capa do livro "Saga Animal". Fonte: site livrosdaindigo.com.br

Fui do jeito que eu achei que tinha que ir, que é começar a frequentar a bienal, procurar outros escritores na internet, fui dando cabeçada e ouvindo muito “não”, mas junto com isso foram chegando pessoas, que foram me ajudando. Então acho que, numa proporção igual, da mesma maneira que eu ouvi muito não e percebi que estava fazendo tudo errado, foram chegando pessoas que foram me ajudando. A maior dificuldade foi essa: de descobrir o caminho do zero, foi muito gostoso na verdade, quando eu paro para lembrar.

ACHO QUE TODO INÍCIO DE ESCRITOR É ASSIM, SEMPRE RECEBE UM NÃO. É MUITO DIFÍCIL VOCÊ ACHAR ONDE VOCÊ PODE PUBLICAR O SEU LIVRO, NÃO É?

ÍNDIGO: É, é difícil. E eu acho... Não, eu tenho quase certeza, que escritores e escritoras que começam e logo de cara dá muito certo é quase uma sina, porque a gente vê que depois, no segundo livro, não sei o que acontece que parece que daí a coisa começa a ficar muito mais complicada e sofrida, porque como o primeiro foi muito fácil e foi um sucesso logo de cara, na segunda tentativa, no segundo livro, começa a parte difícil e isso é muito frustrante. Então é melhor assim: que no começo seja muito difícil e depois vai ficando fácil, do que o contrário.

QUAL LIVRO QUE VOCÊ ESCREVEU QUE MARCOU SUA CARREIRA, A SUA VIDA E COM QUAL HISTÓRIA VOCÊ MAIS SE IDENTIFICA NOS SEUS LIVROS?

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ÍNDIGO: A história que mais marcou a minha carreira, o livro, foi o “Cobras em Compota” porque o resultado desse livro foi que eu ganhei um concurso literário do Ministério da Educação na época, e o livro foi distribuído para bibliotecas do Brasil inteiro, então isso realmente mudou. De repente eu era uma escritora que era conhecida basicamente em São Paulo, e de repente meus livros chegaram em tudo quanto é canto do Brasil. Foi uma grande mudança de direção. E sobre a outra pergunta: a história com a qual eu mais me identifico? Nossa, é uma pergunta difícil até. Mas eu acho que se for pensar assim, realisticamente, eu acho que a “Cobras em Compota” também, porque ali são contos e tem muita coisa da minha vida, em comparação aos outros que são basicamente ficção com algumas coisas que a gente sempre extrai da vida, mas ali tem umas coisas bem coladas e memórias de infância mesmo.

Capa do livro "Cobras em Compota". Fonte: site livrosdaindigo.com.br

PARA VOCÊ, QUAL FOI A IMPORTÂNCIA PESSOAL E PROFISSIONAL DE TRABALHAR COM O COLÉGIO JOÃO GUENO?

ÍNDIGO: Olha foi muito interessante, eu lembro da história, da caminhada que foi para eu chegar aí. Primeiro a professora Érica me escreveu falando que ela tinha encontrado um livro meu na biblioteca que eu não me lembro agora se era “Saga Animal” ou a “Maldição da Moleira” (foi a “Maldição da Moleira”) e que ela começou a ler para uma turma que não tinha muito interesse em leitura e escrita. Era uma turma que não tinha se encantando com isso ainda e de repente a leitura desse livro mudou alguma coisa ali que aquela turma começou a ficar super interessada. Então a gente começou a trocar figurinhas. Eu falei “vou mandar outros livros” e mandei livros. A gente começou a se falar mais e a turma também curtiu. Poderíamos então dar um jeito de visitar o colégio. Mas quem que ia pagar viagem para eu ir até aí? Eu fui falando com editoras, a Érica foi mexendo mil pauzinhos, mobilizando Deus e o mundo, eu lembro que teve uma tal de rifa até na escola. Eu sei que a gente conseguiu, a gente fez que fez que fez que no fim eu fui convidada para ir, eu nem lembro de onde surgiu o dinheiro direito... mas eu acho que eu acabei fazendo alguma palestra em algum lugar, a editora também ajudou pagando alguma coisa, acho que a passagem (a feira literária do SESC convidou para uma palestra e a Editora Moderna ajudou também). Pois é foi tudo bem arquitetado. Quando eu vi deu tudo certo e eu fui. Mas o que foi mais impressionante dessa história, o poder de mobilização da escola inteira para fazer isso acontecer... Eu lembro que pintaram tudo de azul, decoraram uma escola inteira com referências às histórias dos livros, os alunos fizeram uma super festa para me receber, foi uma coisa assim... foi meu dia de princesa! (risos) Eu fiquei encantada com o trabalho que todos fizeram, foi realmente um carinho muito grande dessa escola e foi um desses encontros especiais, por meio dos livros ter mobilizado tanta energia assim. Depois de um ano, dois anos eu voltei de novo para visitar a escola e nunca me esqueço. Saiu documentário de toda essa história junto com a universidade, foi uma história linda. Fiquei com maior carinho pelo João Gueno mesmo. Fizeram camisetas! Tem uma foto linda também todo mundo com a camiseta escrito “Índigo”, eu ganhei uma caneca, nossa! Eu nunca fui tão mimada na vida!

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Foto da escritora com alguns estudantes em 2014. Fonte: Acervo pessoal Prof. Érica,

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Foto da escritora com a camisa citada acompanhada da Prof. Érica e da entrevistada da última edição Lúcia Cherem em 2014. Fonte: Acervo pessoal Prof. Érica.

ÍNDIGO: Olha, na verdade não mudou muito. Porque eu já trabalhava em casa direto, então isso realmente não mudou. Eu moro num sítio, a minha frequência de ir para cidade era uma coisa de duas vezes por semana no máximo, quando dava tudo certo eu preferia ir só uma vez por semana, no dia a dia eu já não saía de casa. Nesse sentido fui poupada de toda angústia da questão da claustrofobia mesmo, isso eu não senti na pele. Agora, claro que deu um medo assim de falar: “nossa que que vai ser de tudo? do mundo, das pessoas, as relações? Passei por esse susto, mas para mim, sempre que as coisas ficam muito difíceis, eu tenho uns surtos criativos, é uma como técnica de sobrevivência e para mim nessa quarentena eu descobri a habilidade de contar histórias. Resolvi escrever uma história por dia, logo no começo da quarentena, cada história falando de uma situação de confinamento, sempre com animais, histórias de animais. Escrevi várias delas e depois eu comecei a gravar vídeos contando essas histórias. Isso é uma coisa que eu nunca tinha feito, gravar vídeo e colocar nas redes sociais e eu, aliás, achava que não tinha talento nenhum para isso. Achava o maior mico. Mas eu acho que na quarentena tem aquela coisa de “ah eu não tenho nada a perder mesmo, vou fazer” e fui fazer como a maior “cara de pau”, foi ficando super divertido, amei fazer e agora descobri consigo contar histórias em vídeo também. Nessa quarentena eu aprendi muito, acho que aprendi a perder a vergonha de vídeo, porque agora tem isso, tudo é por vídeo. Eu era bem discreta, e nossa, agora eu “tô muito cara de pau”. Então está sendo bom até para mim. 

AGORA, PRINCIPALMENTE NA QUARENTENA QUE VOCÊ TEM QUE FICAR EM CASA, COMO ESTÁ SENDO O SEU DIA A DIA COMO ESCRITORA?

DE ONDE VOCÊ TIRA TANTA CRIATIVIDADE PARA ESCRITA DOS SEUS LIVROS?

ÍNDIGO: Isso é um grande mistério. De onde a gente tira ideias? Acho que basicamente as ideias são resultado de tudo que a gente já viveu, tudo que a gente já leu, os nossos relacionamentos, filmes que a gente viu. Tudo isso está dentro da gente, as ideias nunca vêm de fora, de olhar para um quadro. Acho que é de um lugar muito profundo, misterioso e inconsciente mesmo e muitas pessoas se perguntam: “de onde vêm as ideias?” Acho que ninguém sabe responder isso. Mas eu sei, por exemplo, eu tenho que botar as palavras no papel. Começo a escrever qualquer coisa, às vezes eu escrevo um monte de abobrinha antes de eu chegar na história. Só chego na história porque eu estou lá escrevendo, indo pra qualquer lado, até que lá pelas tantas a história naturalmente aparece, ou seja, a ideia vem do fazer, você começa sem ideia nenhuma e a ideia vem. Se eu fosse esperar uma ideia pra começar a escrever, eu juro que eu não teria escrito nada até hoje, então eu começo a frio sempre.

O SEU NOVO LIVRO “MANIAS DE FAMÍLIA” FOI ESCRITO NO PERÍODO DE ISOLAMENTO SOCIAL? E COMO FOI A EXPERIÊNCIA DE ESCREVÊ-LO?

ÍNDIGO: Esse livro foi interessante porque uma amiga falou de uma editora que estava procurando livros novos e se eu teria alguma ideia. Eu falei que iria tentar alguma coisa por aqui e comecei com uma ideia que estava ficando bem ruim, bem nada  a ver. Só que eu disse assim: “vou desenvolver isso só porque eu falei que iria fazer e para honrar a minha palavra”. Continuei. E começou a ficar interessante a coisa. Queria mesmo era fazer um livro que fosse um relatório de manias. Isso eu fui descobrindo no processo. A história é sobre um menino que percebe que todo mundo na família dele tem um monte de manias. Cada uma mais esquisita que a outra e ele mesmo não quer virar um adulto cheio de manias como os demais parentes dele. Ele começa a fazer esse relatório como quase uma medida de prevenção e o livro é o próprio relatório. Eu consegui terminar e mandei para a editora e foi muito legal porque a editora respondeu depois de 24 horas. Na minha vida isso nunca tinha acontecido, editor responder rápido. Foi ótimo. Isso aconteceu bem no início da quarentena, até me deu um otimismo para enfrentar a quarentena. Como é uma editora nova com a qual eu nunca tinha trabalhado, a gente nunca sabe como vai ser a relação, mas eles estão sendo ótimos e o livro realmente vai sair até o fim deste mês.

QUAL FOI A SUA EXPERIÊNCIA EM RELAÇÃO À PRODUÇÃO DO FILME “UM PINGUIM TUPINIQUIM”, FRUTO DE UM LIVRO SEU?

ÍNDIGO: Quando eu fui aí no João Gueno, isso deve fazer uns sete anos já, eu já estava trabalhando nesse roteiro. Ou seja, eu comecei a trabalhar no roteiro em 2013, né? Agora esse ano eu cheguei na décima quarta versão do roteiro, que é a versão que vai ser filmada e está num ponto em que a gente já está com 45 minutos do filme totalmente desenhado. Isso já progrediu bastante desde que eu fui aí na última vez. Já tem fala dos personagens, já tem trilha sonora, já tem um monte de coisa e a previsão é que ele fique pronto em 2023. Ou seja, desde que eu comecei a escrever até ele chegar nas telas do cinema, 10 anos! É um trabalho super artesanal, mas, sinceramente, eu estou achando lindo que seja esse ritmo lento, porque assim a gente tem condições de errar e aprender, errar e aprender, e ir melhorando.  

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Imagem do personagem "Pinguim Tupiniquim". Fonte: site livrosdaindigo.com.br

Se a gente tivesse feito esse filme, por exemplo, na quinta versão do roteiro, teria um monte de problemas, porque basicamente é isso, qualquer escrita de um livro, de um roteiro é um processo de ir lapidando o texto, você tem que fazer, terminar e daí volta, vê tudo que ficou ruim, refaz, e refaz, e refaz. Não existe um texto que fica bom de cara, se existe é porque a pessoa que está lendo não está com um critério muito elevado. É meio radical o que eu estou falando, mas é o que eu acredito.

TEVE ALGUM MOMENTO EM QUE VOCÊ ESTAVA ESCREVENDO UMA HISTÓRIA E DE REPENTE “TRAVOU”, FICOU MEIO “PRESA”, NÃO CONSEGUIA SEGUIR ADIANTE? E COMO VOCÊ FEZ PARA TER A INSPIRAÇÃO DE VOLTA?

ÍNDIGO: Eu diria que basicamente toda semana isso acontece, é a coisa mais normal do mundo a gente travar no meio de um texto, não saber o que fazer com aquilo. O que eu faço? Eu faço pesquisa. Vou pesquisar o assunto. Estou escrevendo a história de um casal de... um casal de caramujos que mora no parque. E os dois estão tendo uma crise no casamento, o que é pura ficção. Você fala: "nossa, o que que ela vai pesquisar disso?". Vou ver imagens de caramujos, ler os hábitos deles, vou ver algum filme no YouTube sobre caramujos, é incrível como as ideias vêm. No caso, esses que estão com uma crise no casamento... vou ver texto de psicologia falando sobre relacionamentos... é pesquisa. Toda vez que a gente trava, vai para pesquisa, porque daí destrava. É batata, é a melhor fórmula.

NO DIA 31 DE OUTUBRO, VOCÊ POSTOU NO SEU BLOG SOBRE TER “UMA DÍVIDA COM BRUXA”, REFERINDO-SE A TER CORTADO A PERSONAGEM DE UMA BRUXINHA DE SEUS LIVROS. A PERSONAGEM PARECE SER MUITO INTERESSANTE, ENTÃO EU GOSTARIA DE SABER SE EXISTE A POSSIBILIDADE DE RESGATAR AQUELA BRUXINHA.

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Imagem do post citado. Fonte: site livrosdaindigo.com.br

ÍNDIGO: Tem a possibilidade de ter um livro falando sobre ela, até porque eu tenho muitas anotações. O problema de trabalhar com bruxa é que é um clichê, preciso encontrar uma maneira interessante de fazer isso, mas eu acho que eu tenho que fazer porque é uma coisa que eu estou arrastando a tempo e ficar com dívida com bruxa não é muito bom. Inclusive essa semana eu comecei um conto que já poderia ser o embrião dessa história. Então está no ar essa coisa, porque o Halloween não faz tanto tempo assim e agora você também está falando sobre isso, eu não sei, tem essa coisa de bruxas que, se a gente não faz, depois pode dar um revertério astral então é melhor eu fazer mesmo (risos).

A escrita basicamente me ensinou isso: que é tudo uma questão de persistência e eu lembro quando eu fui trabalhar com cinema, o diretor me falou assim “você sabe qual que é a diferença entre uma pessoa que consegue fazer um filme e outra que não?” Eu falei “não”, e ele “então, a que consegue é a que não desiste” e daí eu sempre lembro disso. As coisas vão demorando e vão demorando, eu não vou desistir e realmente eu sou muito persistente, eu gosto de ver o processo, das melhorias, porque são etapas e as coisas vão ficando mais redondas, mais claras, e a história vai ficando mais interessante, mais mirabolante e é tempo né, tempo e dedicação. Também vocês estarem interessados nesse assunto da escrita, o que eu sempre gosto de falar é que essa é uma habilidade não apenas para o escritor ou escritora, mas para muitas áreas né, muitas áreas mesmo, eu imagino que basicamente qualquer coisa que for trabalhar, você tendo um bom texto conseguindo se expressar com clareza e com objetividade, nossa, isso é uma super vantagem. Então habilidade para se desenvolver e eu acho que a habilidade de escrever bem traduz também na habilidade de você falar bem, expor suas ideias e eu acho que a gente tá entrando numa nova era agora da humanidade, que a comunicação vai ganhar um valor como ela nunca teve, que agora a gente consegue se comunicar com muita gente tempo inteiro né? E também acho que a gente tá vivendo a grande crise da comunicação, que você fala “LÉ”, a pessoa entende “abacaxi”, então além disso tudo a gente ainda tem muito que aprender nesse departamento de comunicação.

CONSELHO DA ÍNDIGO!

Com pleno sentimento de felicidade, dentro de um ano nada convencional, com êxito conseguimos realizar a segunda edição da nossa incrível revista. Agradecendo especialmente a nossa admirada Índigo (Ana Cristina Ayer, que dispôs de um tempo para nos contar um pouco de sua caminhada como escritora, e, mesmo virtualmente, dentro de uma conversa inspiradora, não perdeu seu carisma e simpatia. A seguir estão alguns links para conhecer melhor a história da escritora, e seu contato com o Colégio João Gueno.

Site da escritora: www.livrosdaindigo.com

Reportagem da RPC sobre a visita ao colégio: Clique aqui

Matéria da Gazeta do Povo: Clique aqui

Documentário "A Aventura de Colombo": Clique aqui

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