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O NOVO ENSINO MÉDIO

Por Fabiane Polli, Gustavo Castro, Maria Eduarda de Jesus e Professor Marco Aurélio.

Edição: Eric Rodrigues, Gabrielle Marina e Raíssa Trevisan.

   O Novo Ensino Médio é uma medida que irá proporcionar uma formação técnica e profissionalizante, seu foco está no protagonismo do estudante em desenvolver seus projetos de vida.  A autonomia de escolha do estudante por matérias que queiram se aprofundar é uma das mudanças previstas. Além disso, o aluno terá sua grade de matérias dividida por ano ou semestre e um aumento na carga horária. A ideia de reforma do ensino médio em questão teria sido criada há um bom tempo, em 2016, e aprovada no ano seguinte. Após tanta espera, será oficialmente aplicada em 2022 em todo o país. Reduzir as taxas de desistência, melhorar o desempenho e trabalhar com a realidade do estudante foram as principais motivações que levaram à idealização do projeto.

   Para entender mais sobre o assunto, conversamos com Waldineia Martins (professora de língua portuguesa e consultora de educação); Simone Cardoso de Moraes (professora do Colégio Estadual João Gueno); Francis Eder Ribeiro da Silva (diretor do Colégio Estadual João Gueno) e por fim, com as alunas: Aline Cristina (9º ano) e Rafaela Majewski (8º ano). Aos profissionais, questionamos como isso mudaria a maneira de ensino, como lidar com essas mudanças e de que maneira isso transformaria a escola. Aos estudantes, debatemos as questões de adaptação, pensamentos, expectativas e o futuro.

   O Governo do Paraná divulgou o novo ensino médio de várias formas: nos canais de TV, YouTube, postagens em redes sociais, etc. Muitas dessas formas, às vezes, com um sentido equivocado do que poderá ser o novo ensino médio. Algumas propagandas eram muito enganosas sobre o assunto, abordando apenas o lado bom do novo modelo de ensino.

   Matéria publicada na Folha de São Paulo, em 2017, revelou: “O governo Michel Temer pagou R$65 mil para o canal Você Sabia falar bem da reforma — Comandado por dois jovens, o canal no YouTube conta com 7,1 milhões de inscritos”. Atualmente, o canal tem cerca de 42 milhões de inscritos. Além do canal Você Sabia, outros youtubers e influencers foram pagos com dinheiro público, pelo governo federal, para fazer propaganda do novo ensino médio. Os contratados não quiseram comentar sobre o assunto.

    O projeto do novo ensino médio teve diversas modificações desde quando foi aprovado no congresso nacional, em 2017. Muitas propagandas como essas foram feitas em vários lugares, não somente no estado do Paraná, tem postagens sobre o assunto em quase todo lugar do Brasil. Muitos alunos são enganados com propagandas elaboradas pelo governo e acabam tendo uma ideia falsa da mudança que está por vir.

   Após falarmos com alunos e professores sobre como eles se sentem a respeito deste novo modelo de ensino, conferimos como o colégio e a equipe pedagógica está lidando com essa nova fase da educação brasileira. Entrevistamos Francis Eder Ribeiro da Silva (diretor do Colégio Estadual João Gueno) que está na direção-geral desde 2015. Perguntamos sobre o momento preparatório para o novo ensino médio, e como o colégio e a equipe estão lidando com esta mudança.

“Como ocorrerá essa implementação no João Gueno? Será funcional?” [Maria Eduarda de Jesus].

“Não só no Gueno, mas em todas as escolas da rede a implementação será gradativamente, ou seja, em 2021 somente as turmas do 1º anos estarão dentro deste novo formato, já as demais séries permanecerão no formato atual. Na escola teremos turmas pela manhã com a possibilidade de oferta do Curso Técnico de Desenvolvimento de Sistema, tendo seis aulas diárias e turmas a noite (sem possibilidade de curso técnico) sem aulas aos sábados, mas com complementação de carga horária aos sábados. Não dá para dizer que irá funcionar em 100%, este primeiro ano será de testes também, mas posso garantir que a equipe toda fará de tudo para que tenhamos bons resultados dentro dessa nova proposta.” [Francis Eder Ribeiro da Silva].

"Sobre a adaptação para o novo modelo, como vocês enxergam que será para os professores? E para os alunos?"

[Maria Eduarda de Jesus].

"Vejo grandes desafios para professores e alunos. Por parte dos professores, acho que começa pela questão de sair da “zona de conforto”.

O trabalho deverá ser conduzido utilizando-se de novas propostas metodológicas e novos instrumentos de avaliação, o que demandará estudos por parte dos professores.

Com relação aos alunos, acredito que a maior mudança será em se adaptar em não ser mais passivo no processo de aprendizagem, o aluno passará a ser mais ativo, ou seja, as propostas levarão os alunos a construírem o conhecimento e não a receber tudo pronto como acontece atualmente.” [Francis Eder Ribeiro da Silva].

   Mudanças em práticas pedagógicas ou grades curriculares não são novidades na rotina de um professor. No entanto, a proposta do Novo Ensino Médio tem despertado apreensão entre educadores. Para Simone Cardoso de Moraes, professora de Artes há quinze anos, faltou uma participação efetiva dos educadores na elaboração do novo modelo: “As mudanças do Ensino Médio já começaram errado. Em 2015, eles retiraram o Ensino Médio da BNCC (Base Nacional Comum Curricular). (…) E foi nessa época que deixamos de ter informações assertivas, corretas e claras sobre o que foi proposto para essa modalidade de ensino, chegando a nós (as determinações) "a toque de caixa", sem debates e análise efetiva de propostas, deixando para a comunidade escolar opinar em tempo recorde e sempre em período que ninguém está acompanhando, como em férias. O que acabou se tornando apenas uma divulgação do que eles estavam fazendo”.

   A educadora se mostra pessimista em relação à adaptação para o Novo Ensino Médio:  “Não consigo ver possibilidade de adaptação, pois, infelizmente, não vejo o estado realmente se preocupando com a implantação desse modelo nas escolas. Esse formato necessita de uma infraestrutura que nossas escolas da região metropolitana de Curitiba, por exemplo, não possuem”. Ela ainda demonstra especial preocupação com os estudantes que precisam entrar no mercado de trabalho ainda em idade escolar: “Mas a pior mudança está no ensino a distância sem obrigatoriedade para o aluno do ensino noturno. Isso é precarizar um estágio da vida de formação de conhecimentos para pessoas de baixa renda, pois eles, na atual conjuntura, precisam ajudar em casa porque o estado não tem políticas públicas efetivas e muito menos políticas de estado  que possam garantir a todos e todas educação presencial nesse modelo que querem apresentar. O modelo EAD não é e não deve ser para crianças e jovens em formação, isso não estimula a capacidade de pensar e agir entre pessoas e em situações físicas e intelectuais de forma imediata. Já que esse modelo pensa tanto em competências e habilidades, deveria ir contra o EAD nesse período”.

   A docente reconhece, contudo, que há aspectos positivos no novo modelo: “Em relação ao planejamento em conjunto com outras disciplinas, isso sim é muito interessante. Irá ampliar as ideias e formas de aplicação do conteúdo e assim podemos mudar esse formato tão maçante de escola”. Embora não concorde com o novo formato proposto, ressalta a necessidade de mudanças e as vê com certo otimismo: “Eu acredito que mudanças sempre trazem benefícios. Imagine se não houvesse mudanças, nós não evoluiríamos! (…) O conhecimento se amplia, as coisas mudam, ficam obsoletas e outras novas chegam no lugar. O ser humano é um ser intelectual e não um robô. Por esse motivo temos que estar preparados às mudanças”.

   Não há como falar no novo ensino médio, sem pensar nos alunos que começam esta nova fase da educação brasileira. O intuito desta matéria consiste em tentar explicar como funciona este novo estilo de educação. 

   Após uma breve entrevista com duas alunas do 8º e 9º ano, podemos observar como os alunos receberam essa notícia, como estão lidando com isso, as incertezas, e como é a sua visão sobre esse novo modelo de ensino. A opinião das alunas não é muito concreta, pois, tiveram pouca informação até o momento e muitas dúvidas aparecem, entre elas, as aulas no sábado e o aumento da carga horária. 

   Waldineia Martins, professora e consultora de educação, diz que o aumento da carga horária é uma tentativa de “humanizar” o ensino médio e diminuir a desistência dos adolescentes nas escolas. Além disso, acrescenta que, a pauta do novo ensino médio pretende trabalhar para que o aluno crie um senso crítico e desenvolva sua criatividade, o pretexto desta proposta é “tirar os alunos da caixa" de que só há algumas profissões que darão futuro para eles, como, por exemplo: médico e advogado.

Novo Ensino Médio - Infográfico

   O futuro do novo ensino médio é incerto e instável, o que sabemos, é que no futuro o ensino médio mudará. Mudanças são urgentes e necessárias. O futuro depende das escolas, professores, alunos e pais. O Ministério da Educação necessita melhorar o planejamento para concretizar novo ensino médio em boa forma, além de aprimorar as comunicações  e a disposição das informações. Haverá muito trabalho no ano que vem (2022) para que as escolas consigam conduzir tudo direito. Mesmo tendo boas expectativas, especialistas sabem que pode dar errado, que o futuro do novo ensino médio é relativo. Dependerá muito de uma escola para outra. 

As escolas poderão conseguir entregar bons conteúdos? Conseguirão ajustar os horários dos professores?

Muitas perguntas são feitas diariamente sobre novo ensino médio, porém, sem respostas concretas. Teremos respostas no futuro, em um futuro não tão longe.

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