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Foto do escritorJoão Gueno

A folha que o vento levou


por Giovana Pereira



Era terça-feira, dia 28 de agosto. Na Rua Marcos Cardoso, tudo ocorria normalmente - apesar do problemas habituais -, crianças brincando, outras indo para a escola, adultos indo trabalhar. Tudo ia bem, mas a Rua Marcos Cardoso é como um lobisomem: de dia é um homem inofensivo, mas a noite se transforma em um monstro feroz.


Eram seis horas da tarde, as luzes das casas se acendiam, os portões se trancavam e a rua ia ficando deserta. Mas uma casa não seguia essa lógica. Era a casa de Seu Beníncio, um senhor de 58 anos que trabalhava como vigilante em uma escola em construção.


Dona Branca, vizinha de Seu Beníncio, estava arrumando o quarto de visita para seu neto, que havia chegado para passar uns dias na casa, quando viu um homem em cima do muro de Beníncio. Assustada, Branca fechou a cortina e passou a espiar pelo canto da janela. O homem entrou na casa de Beníncio e roubou o pouco que havia lá. Foi quando Branca pegou o telefone para ligar para a polícia, mas com seus 81 anos de memória, esqueceu o número de denúncias.


De repente, o portão da casa se abriu. Era Beníncio chegando em casa. Manco, devido a um acidente quando jovem, ele topou com o ladrão que segurava um porta retrato de sua filha que morava fora do país - a única parente da família que sobrou. O objeto foi o motivo da discussão. O bem lutava contra o mal, mas o bem não contava com a posse de uma arma pelo mal. Sem piedade, o homem atirou em Beníncio, que caiu no chão com o porta retrato na mão e com uma feição serena, pedindo a Deus misericórdia pelo homem que o ferira.


O rosto sereno de Beníncio depois de morto certamente era por reencontrar o amor de sua vida, sua esposa Cleuza. O dia amanheceu chuvoso, o céu chorava. O velório foi foi todo bancado pelos vizinhos e aconteceu em uma capela no bairro São Gabriel, em Colombo. A capela se tornou pequena para tanto amor dedicado a Beníncio.


A semana passou e a revolta do povo também. A a tristeza era a nova moradora da Rua Marcos Cardoso. Dona Branca, herdeira da rigidez do pai, teve seu coração tomado por tristeza. Passado um tempo, padeceu e morreu de culpa pela morte de Beníncio, sua saúde já fragilizada acelerou seu falecimento. Agora já deve ter se desculpado.

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