por Yasmin Ribeiro
Uma noite no meu bairro, Mayra, a amiga da minha irmã, estava em casa. Elas tinham acabado de chegar de uma festa de 15 anos e Mayra tinha ganhado um iPhone 7. Estava super alegre com isso.
– Ya, olha só esse iPhone! - dizia se exibindo com o celular.
– Aham - suspirei, a verdade é que eu estava morrendo de sono.
Ela argumentava coisas do tipo “ah, esse iPhone tem oito gigas de memória e vem com película”. Até entendia a alegria dela, mas aquilo atingiu um ponto chato. Então a minha irmã decidiu ir com a Mayra para a academia, buscar outra amiga, Maria, que treinava taekwondo às 21h. Fui junto para ver se perdia o sono.
Acontece que sou muito medrosa e fiquei paranóica só de abrir a porta. Ao olhar a rua, vi aquele breu e o matagal. É tão escuro, tão cabreiro, que prefiro que fique assim mesmo, pois qualquer sinal de luz ou vida, seria macabro. Eu não imagino um motivo para alguém estar num matagal, não pelo menos de noite!
Fiquei arrepiada, mas mesmo assim, saímos pelas ruas do bairro São Dimas no meio da noite, com a minha irmã, a amiga dela e o iPhone 7. Subimos a rua Luís Agostinho Trevisan e fomos descendo a Presidente Faria. Chegamos na academia, encontramos a Maria e voltamos. Continuamos descendo pela rua Marcos Cardoso, a iluminação era meio fraca e a rua estava deserta.
Pior ficou quando passamos pelo local onde ocorreu o caso Tayná. Minha irmã e eu ficamos olhando para o fundo da mata atrás do portão. Mayra estava ocupada vendo seus aplicativos no celular e nem se importou. Maria cochichou que lamentava muito pelo que aconteceu e temia que acontecesse o mesmo com ela. Nós estávamos juntas, andando do lado da rua em que havia casas, mal tínhamos coragem de atravessar por causa do sombrio matagal do outro lado.
Estávamos há uma quadra da minha casa, mas logo percebi que havia uma figura. Contei para minha irmã e ela avisou as amigas. Mayra no mesmo segundo guardou o celular no bolso. A ansiedade estava matando. Eu e minha irmã estávamos começando a chorar, Mayra estava fazendo mil preces, mas Maria não, estava rígida, esperando algo acontecer. Isso era estranho vindo de alguém que minutos antes estava se lamentando por um assassinato.
E então aconteceu, a figura estranha se esticou, agarrou o braço da minha irmã, que soltou um grito e alarmou todas nós. O assaltante apontou uma faca para ela, mas algo inesperado aconteceu. Além de gritar ou falar algo, ele soltou um murmúrio (ou um cacarejo) “nmphén mi”. Me virei para minha irmã e falei:
– Mas heim? - ele ficava murmurando como se tivesse algum problema.
Maria ficou naquela mesma rigidez, até que ela nos surpreendeu tomando a faca dele. Ele se assustou e se afastou, parecia que ela tinha explodido. Começou a bater e a dar “rasteirinhas” nele. Mayra pegou seu iPhone 7 e ligou para a polícia. Minha irmã ficou petrificada e eu fiquei pensando: o que ele quis dizer?
O assaltante pegou a faca do chão e saiu correndo murmurando “aifganp…”. Assim como apareceu, sumiu num piscar de olhos. Mayra disse que a polícia chegaria em minutos, então voltamos para casa. A polícia chegou e eu fiquei dentro de casa, ainda pensando “o que será que aquele assaltante mudo quis dizer?”.
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