por Renata Pereira da Silva
Nunca iria imaginar sair de um lugar movimentado, muito habitado, com pessoas e automóveis por todos os lados, para morar em um lugar chamado São Dimas. Nunca nem tinha escutado falar nele, mas não tinha outro jeito!
Cheguei 50 anos depois que o bairro tinha surgido e fui morar na Rua Marcos Cardoso. A mudança não foi capaz de distrair Luiz, meu filho, que andava triste com a morte do pai - o grande amor da minha vida. Agenor esteve comigo nos momentos difíceis e alegres. Compartilhávamos tudo, até o pouco que ganhávamos juntando latinha e papelão pela grande São Paulo. Morávamos lá desde 1994, na cidade de Osasco, mas três anos depois meu marido partiu.
Agenor sempre fez questão de educar nosso filho na rédea curta. Deixou um grande legado na terra “com o mínimo viva ao máximo”. O homem da minha vida morreu com problemas nos rins. Era “turrão” e não ia ao médico de forma alguma.
Vendi meu puxadinho, juntei minhas tralhas e me mandei. Escolhi Colombo, porque tinham boas propostas de emprego próximo a região. Cheguei por volta de maio de 2001. Luiz tinha acabado de completar oito anos. No São Dimas ainda tinha muito terreno baldio, ruas cheias de buraco e sem pavimentação. Eu não tinha com quem contar até o primeiro momento. Vivi três anos da minha vida isolada!
Matriculei meu filho na escola, em um bairro que não tinha boa fama, o Monte Castelo, onde aconteciam várias ocorrências policiais, mas não tinha outra opção. Com meu emprego só dava para pagar as contas e fazer compra de alimentos básicos, nada dessas besteiras que as crianças costumam comer. Meu filho passou muita vontade.
Esses três anos de adaptação foram difíceis. Até que certo dia, me deparei com uma vizinha que estava passando por problemas. Tenho mania de aconselhar e resolvi ajudá-la. Jane me agradeceu tanto e desde então nos tornamos grandes amigas. A partir dessa amizade, outras surgiram. Eu, Jane, Leandra, Alice e Dona Jacinta, sentávamos na frente da minha casa e ficávamos tricotando, fazendo fofocas, enquanto nossos pestinhas brincavam na rua.
Mas o tempo passou. Voou mesmo. Nossos pestinhas cresceram. Jacinta se foi. Alice se mudou, pois seu filho, Juliano, se envolveu com coisa errada e foi assassinado pela polícia. Já meu filho só me dá orgulho! Ele tem 25 anos e está no terceiro ano da faculdade de arquitetura. Foi sofrido chegar até lá.
Para pagar a faculdade, Luiz trabalha em uma loja de aparelhos eletrônicos durante o dia, durante à tarde, vende alfajor nos terminais de Curitiba e até mesmo no nosso bairro. Eu faço o alfajor, ele embala e vende. Junto com o dinheiro da minha aposentadoria, pagamos a faculdade e vivemos muito bem!
E o São Dimas? Ah, ele cresceu. Chegaram habitantes e comércios surgiram. Temos farmácia, posto de saúde, escolas e pavimentação na Rua Marcos Cardoso, que liga o meu bairro e o Vale das Flores. O problema do mato está aos poucos sendo resolvido.
Eu amo viver aqui. Esse é o meu lugarzinho no mundo. Sou colombense com extremo orgulho. E a Marcos Cardoso, que antes não gostava, também carrego em meu nome: Felipa Rodrigues Cardoso. Pretendo passar o resto da minha vida aqui. O prazer de viver nesse bairro ninguém tirará de mim. São Dimas é um lugar simples, mas com um valor excepcional.
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