por Leticia Mirelle
Eu devia ter aproximadamente uns dez anos de vida. Meu dono, que não era muito apegado a mim, me deixou num bairro chamado São Dimas, que aparentemente não era tão bonito. Quando cheguei no bairro, estava morta de fome, porque o sítio em que morava era longe. Deu uma boa viagem até chegar aqui.
De repente, senti um cheirinho de comida que vinha de um lugar movimentado, cheio de adolescentes. Não sabia bem o que era. Observei melhor e percebi que era um colégio. Pessoas conversando, adolescentes sentados em cadeiras, tudo no seu devido lugar. Entrei e comecei a passear pela escola. Um tempo depois, escutei um barulho pela primeira vez e vi pessoas gentis trocando de sala. Os adolescentes as chamavam de professores.
Quando escutei pela terceira vez o barulho que tinha chamado minha atenção, vi uma molecada correndo e decidi ir atrás. Os adolescentes estavam fazendo fila, um atrás do outro. Senti um cheirinho de comida e percebi que essa fila era a do lanche. As mulheres que estavam entregando a comida eram as tias da alimentação. Uma delas me viu e me deu um pote com comida e outro com água. Sai de lá gordinha de tanto comer.
Depois de meses indo até lá, uma das tias ficou com dó de mim, porque eu estava passando frio e ficava na chuva. Então, finalmente a tia responsável pela limpeza, que os adolescentes chamavam de Tia Luiza, me adotou. Estou muito feliz por ser bem tratada e estar em uma casa que gostam de mim.
Senti muita falta do meu antigo lar e da minha família. Mesmo gostando do meu ex-dono, ele não gostava de mim. Passei a não me importar, porque achava que todos eram maldosos como ele. Mas nem todos os animais tiveram a mesma sorte que eu tive, porque muitos ainda moram nas ruas do São Dimas.
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